Planejamento (II) – Efeito Casablanca



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Filme Casablanca, um marco de sucesso na história do cinema

 

Quando se fala em planejamento não há como fugir aos exemplos encontrados no mundo do cinema, verdadeira fonte de ricas lições para um aprendizado contínuo. Mas um elemento surge para que ganhe vida uma verdadeira e portentosa vassoura que deverá arrastar toda a sujeira para debaixo do tapete: o sucesso de público e/ou crítica alcançados pós-lançamento.

As produções cinematográficas têm a sua complexidade e sua grandiosidade muito relacionadas com o montante de dinheiro investido na empreitada. Quanto mais recurso financeiro maiores os impactos dos riscos e dos erros, sejam de planejamento ou de execução.

 

O filme Casablanca não necessariamente seria enquadrado no rol dos complexos ou grandiosos quando de sua produção. Mas o resultado final, após o seu lançamento merece ser reconhecido.

Lançado estrategicamente, às pressas, em novembro de 1942 (previsão original era para a primavera de 1943), para coincidir com a invasão da África do Norte pelos aliados da Segunda Guerra Mundial e que incluiu a tomada da cidade de Casablanca (pano de fundo do filme, local onde transcorre a história), o filme já atingiu naquele resto de ano a sétima posição no ranking de bilheteria, lhe conferindo o status de grandiosa estreia. E tão logo foi lançado, a crítica rasgou elogios ao tema central que mesclava os diversos sentimentos e conflitos pelos quais pode passar um ser humano. Lógico que a adição de um ingrediente emotivo e político como a guerra por cenário de fundo da história também contribuiu fortemente. Nada mais compreensível já que a produção foi realizada no “calor da hora”, em meio ao conflito bélico e militar. Tão logo se iniciou 1943 e o filme conquistou três estatuetas do Oscar, e pasmem (mais a frente vocês vão entender esse espanto): melhor filme, diretor e roteiro adaptado. Isso alavancou ainda mais a tendência para o sucesso. Não se pode esquecer também o casal de artistas Bogart e Bergman que encheram os olhos tanto dos críticos quanto do público com suas fortíssimas interpretações.

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman: a química entre eles também foi fundamental para o sucesso.

 

Foi só uma questão de tempo para o filme continuar avassaladoramente sua longa e contínua jornada de crescimento no gosto popular. Tamanho alcance é reconhecido pela American Film Institute (AFI) que vem desde 1998 enumerando Casablanca com um dos cem melhores filmes em um espaço de tempo de cem anos (http://www.afi.com/100years/#.U7hZWvldWSo). Um feito magnífico para uma produção de 1942.

Mas nem tudo são flores. Na mão contrária desse sucesso, a produção do filme se arrastou ao conviver com inúmeras evidências de falta de planejamento. Talvez a mais destacada delas seja a inexistência de um roteiro antes e durante as filmagens. De certa forma a condução das cenas seguiu o sabor dos ventos. Cada dia foi realmente um novo dia. Diga-se, “foram tantas emoções”. Orçamento e prazo foram feridos. Um dos muitos imbróglios foi quando o produtor musical quis compor uma nova música para a personagem principal (Bergman), substituindo a que já fora utilizada no filme (a famosa “As Time Goes By”), mas já não era mais possível regravar as tomadas com a nova composição: a atriz já cortara os cabelos para uma nova produção. Outra: Bergman, durante as gravações, perguntou ao diretor Michael Curtiz com qual dos dois personagens ela iria terminar a história, tendo recebido a surpreendente resposta para “interpretar um meio termo de paixão entre um e outro”. Aliás, enquanto corria a produção o final do filme ainda não estava definido, tendo sido suas cenas diversas vezes reescritas e a cena final gravada realmente por último. Verdadeiros encontros e desencontros, não?

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O conflito existencial dos personagens compõe o enredo da trama

 

Enfim, uma sucessão de alertas de que o fracasso era questão de tempo. Mas o tempo mostrou que o sucesso veio a ofuscar tal visão pessimista (ou realista).

Porém, no planejamento de projetos não é permitido confiar na mesma sorte ou jogar aos deuses as esperanças de que “no final tudo vai dar certo”. O efeito Casablanca só é válido apenas para a própria história do filme. Repeti-lo confiante é mera questão de sorte e um grande salto sem para-quedas.

Portanto, PLANEJE!

Um forte abraço e um bom dia.

J. Dimas

blog.gpfdp@yahoo.com.br

Referências:

http://historiaeavida.blogspot.com.br/2011/09/casablanca.html

http://en.wikipedia.org/wiki/Casablanca_(film)

http://world-of-movies.blogspot.com.br/2006/07/review-casablanca.html

 

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